Manipueira: é o nome – de origem indígena – dado ao líquido de cheiro forte e desagradável, extraído da raiz da mandioca quando prensada, que equivale a 40% da raiz.
O PROBLEMA
A manipueira é um efluente inevitável em fecularias (indústrias que processam a mandioca). Possui alto nível de ácido cianídrico: queima, polui e pode matar em segundos em alta concentração.
Curiosidade: de todas as plantas das Américas, certamente a única que compete com a batata e com o milho em termos de importância na dieta indígena é a mandioca.
E quando os portugueses aqui chegaram, os índios já tinham conhecimento de mandiocultura, extraindo a manipueira, fazendo o Beiju (tapioca), Farinhada e Tiquira (bebida de forte teor alcoólico obtida através da destilação artesanal da mandioca fermentada), entre outras coisas.
Para extrair a manipueira os índios prensavam a mandioca no tipiti, um instrumento feito de palha trançada, inspirado no corpo das jiboias e que pode ser amplamente alargado.
Quanto às fecularias e produtores, muitos despejavam a manipueira irresponsavelmente a céu aberto, curso d´água, agredindo o meio ambiente. O produtor agindo assim, além de poluir o meio ambiente, está também desperdiçando um líquido precioso!
A manipueira não é só um líquido nocivo à saúde.
Com procedimento e equipamentos corretos, muita coisa pode ser feita.
SOLUÇÃO
Fermentação Anaeróbica (lagoa e biodigestor)
Lagoa – Para que a manipueira deixe de ser um veneno e se transforme em um complemento alimentar, devemos submetê-la à fermentação anaeróbica, ou seja, deixar o líquido repousar por aproximadamente 10 dias (isso pode variar com a quantidade e temperatura) em um reservatório. O ácido cianídrico, considerado venenoso, evapora e resta a manipueira, rica em nutrientes e minerais, pronta para servir de complemento alimentar para o gado, reduzindo o custo com ração, e como fungicida na irrigação, combatendo doenças, pragas e até formigas na plantação.
Alguns produtores relatam até que o gado passa pela fase da engorda mais rápido e mais saudável, chegando a zero para proliferação de moscas e doenças, tudo isso proveniente da mistura da manipueira na alimentação, sendo esta feita de forma adequada (no caso do não tratamento o animal morrerá em pouco tempo por intoxicação).
Na produção de leite, os produtores relatam que antes produziam 5 litros por dia/animal e com o uso da manipueira na ração chega de 6 a 6.500 litros/dia/animal. Ofertam de 8 a 10 litros de manipueira/dia/animal (lembrando que a manipueira fornecida já passou pelo devido tratamento e evaporação do ácido).
No final da matéria tem algumas “receitas” de diversas formas de aproveitar a manipueira, fazendo adubo, pesticida, vinagre, tijolo e sabão.
Biodigestor – Em uma lagoa, o ácido e gases evaporam, porém, aqui no biodigestor temos uma vantagem: o biogás gerado fica estocado e canalizado, pronto para ser usado. Isso mesmo! No biodigestor além de produzir um biofertilizante orgânico e ecologicamente correto, também é possível extrair e canalizar o biogás.
Isso é energia verde! Além de reduzir a carga poluidora, pode abastecer a linha de produção das fecularias, substituindo a lenha usada pelo biogás, diminuindo custo e aumentando o lucro.
Aliás, caso você não saiba o que é um biodigestor, explicamos um pouco nessa matéria: Clique aqui.
E se você ainda duvida que um Biodigestor é algo que se paga, veja este nosso case de sucesso, onde o proprietário da granja gastava aproximadamente R$19.900,00 por mês na conta de luz, e após adquirir o biodigestor, sua conta reduziu para R$225,00!
Clique na figura abaixo para ver o vídeo.
O SEBRAE dá algumas dicas e receitas para você aproveitar a manipueira:
Adubo:
A manipueira pode ser utilizada para fertilizar o solo, tornando-o mais rico em nutrientes e servindo também para controlar os vermes que prejudicam o desenvolvimento das plantas. O uso no solo deve ser feito 24 horas após sua produção.
Para fertilizar o solo recomenda-se a diluição na água na proporção de 1 para 1. Aplicar de 2 a 4 litros por metro de sulco de cultivo, deixando o solo descansar por 8 ou mais dias após a aplicação. Para a semeadura, deve-se revolver bem o solo.
Para fertilização foliar, recomenda-se diluição de 1 para 6 ou mais (1 litro de manipueira para 6 ou mais litros de água). Pulverizar as folhas das culturas com o líquido diluído. Fazer 1 aplicação por semana (mínimo 6 semanas / máximo 10 semanas).
Pesticida:
Pode-se pulverizar 3 ou mais vezes sobre a plantação, com descanso de 1 semana entre cada aplicação. O agricultor deve realizar testes numa pequena área do cultivo, para saber a dosagem ideal para a plantação.
– Controle de pragas: em fruteiras maiores como laranjeiras, limoeiros, goiabeiras e mangueiras, recomenda-se pulverizar diluições de 1 para 1.
– Controle de insetos: nas plantas de pequeno porte, como maracujazeiro ou abacaxi, pode-se pulverizar uma diluição de 1 para 2.
– Como carrapaticida: na pulverização de rebanho, com 3 aplicações semanais. Recomenda-se diluições de 2 para 2 acrescidos de 1 litro de óleo vegetal.
– Culturas de hortaliças: para berinjela, pimentão e tomate, recomenda-se pulverizar diluições de 1 para 3 ou mais.
– Controle de formigas: é recomendado despejar 1 litro de manipueira pura em cada olheiro, que depois deve ser fechado.
Vinagre:
Coar a manipueira 2 vezes com um pano limpo, colocar no decantador e, depois, deixar ao sol, sem tampar o recipiente, por um período de 15 dias. Depois disso, se deve abrir a torneira e retirar o líquido puro obtido (vinagre), tendo o cuidado de não agitar o material depositado no fundo do decantador. O vinagre deve ser coado e colocado em garrafas PET limpas e com tampas, para evitar a evaporação.
Dica importante para adicionar essência de frutas ao vinagre: antes de colocar a manipueira no decantador, misture as frutas picadas e amassadas com um garfo.
Como fazer o decantador:
1 tubo de PVC de 100 mm com cerca de 1,20 m de comprimento
1 torneira de PVC
1 tampão (TAP) para tubo de PVC de 100 mm
1 tubo de cola para PVC
– Colocar o tampão em uma das extremidades do tubo.
– A 20 cm dessa extremidade, furar o tubo de PVC de 100 mm com uma faca ou canivete aquecido, de forma a introduzir a torneira de PVC e fixá-la.
Dica: Evite mexer ou mudar a posição do decantador quando estiver decantando a manipueira.
Tijolos:
A grande vantagem do processo de fabricação de tijolos com manipueira é ser ecologicamente correto, pois não consome água, nem há necessidade de ir ao forno, economizando importantes recursos naturais.
Como fazer:
Misturar manipueira em quantidade suficiente para se obter a consistência adequada para o molde ao barro próprio para fabricação de tijolos.
Depois de moldar as peças, deixar secar dois dias ao sol. Não é necessário queimar ou assar.
Dica importante: não se recomenda o uso de tijolos feitos com manipueira para a construção de reservatório de água.
Sabão:
Material necessário:
3 quilos ou litros de gordura animal
7 litros de manipueira
250 gramas de sabão em pó
1 copo (300 ml) de polvilho (goma)
1 quilo de soda cáustica
Como fazer:
1. Derreter os 3 kg de gordura animal e depois colocar todos os ingredientes numa vasilha (balde plástico ou bacia de alumínio) e misturar bem.
2. Deixar ao sol para secar durante 2 horas, mexendo a mistura de hora em hora, até que endureça e chegue ao ponto de cortar.
Esta receita rende 10 kg de excelente sabão.
Existe também, técnicas para transformar a manipueira em “biopolímero”, o que a deixa parecida com plástico. É interessante porque se torna um plástico orgânico, biodegradável e que já serve de biofertilizante natural. Muito útil se usar como embalagem para mudas, por exemplo. Imagine um “vaso” rico em nutrientes e que se dissolverá com o tempo.
Agora queremos saber de você!
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